O cartão de débito ganhou força entre as modalidades de pagamento com cartões em meio à recessão.

A participação de 36,9%, em 2014, cresceu para 39%, em 2016 sobre a receita das transações. É o maior percentual desde o início da série histórica, em 2008.

No caminho oposto, os consumidores reduziram o uso do cartão de crédito nas compras parceladas.

No pagamento a partir de sete parcelas, a participação caiu de 8,3% para 7,5% sobre o valor das vendas com cartões, que totalizaram R$ 1,1 trilhão no ano passado (R$ 674 milhões na modalidade crédito e R$ 430 milhões na modalidade débito).

Os brasileiros evitaram até mesmo parcelamentos em menor prazo. As vendas em duas ou três parcelas representaram no período 13% do faturamento com o uso de cartões – a menor participação desde o início da série histórica.

A ampliação do uso do cartão de débito revela um comportamento cauteloso do consumidor em relação à possibilidade de endividamento, após a maior e mais prolongada crise da economia brasileira.

É o que afirma Vitor França, economista da Boanerges & Cia, consultoria especializada em finanças do varejo.

O maior uso do cartão de débito também mostra, de acordo com França, que os consumidores estão privilegiando a compra de bens de primeira necessidade. Do lado dos comerciantes, diz ele, revela o esforço para reforçar o caixa.

A taxa paga pelos estabelecimentos comerciais para as operadoras nas vendas com cartão de débito é inferior às realizadas com cartão de crédito.

Em 2016, a taxa média era de 1,52% para o cartão de débito e de 2,65% para o de crédito, de acordo com dados do Banco Central.

No ano passado, o gasto total dos estabelecimentos comerciais com as taxas de cartões atingiu R$ 24,4 bilhões, de acordo levantamento da Boanerges & Cia.

A disseminação do cartão de débito sinaliza ainda as incertezas em relação à manutenção do emprego.

Em junho, pesquisa realizada pela Ipsos para a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) mostrou que 55% dos entrevistados consideravam grande a possibilidade de perder o emprego em seis meses. Em maio, esse percentual era menor, de 43%.

A taxa de desemprego no Brasil, próxima de 14%, é uma das mais elevadas da história, atingindo 14 milhões de pessoas. São números que atemorizam mesmo quem está empregado.

“Com esse cenário, o consumidor tem receio de gastar. E, se possui algum dinheiro, compra à vista”, afirma Emílio Alfieri, economista da ACSP.

“Para o lojista é bom, pois com recebe das operadoras mais rapidamente do que quando efetua a venda com cartão de crédito.”

Em volume de transações, o cartão de débito já supera o de crédito. Em 2016, os brasileiros realizaram 6,7 bilhões de compras com débito e 5,7 bilhões com crédito (crescimento de 9,7% e 6,7%, respectivamente), de acordo com a Abecs, associação que reúne as empresas de cartões de crédito.

Levantamento da Boanerges & Cia, com base em dados do BC, mostra que o tíquete médio das vendas com cartão, descontando a inflação, caiu em praticamente em todas as modalidades de pagamento em 2016.

O tíquete médio com cartão de débito foi de R$ 63, o menor valor da história, assim como o tíquete médio para pagamento em uma única parcela no cartão de crédito, de R$ 70.

Já em duas ou três parcelas, o valor médio alcançou R$ 208; em quatro ou seis parcelas, R$ 509 e, em sete ou mais parcelas, R$ 998.

Para França, a queda no tíquete médio do cartão durante a crise indica que os consumidores buscaram produtos de menor valor com perda da força do varejo de ítens mais caros, como móveis e eletrodoméstioos.

Para Alfieri, os dados revelam claramente o novo comportamento do consumidor brasileiro, que se traduz por aversão ao risco

É provável que o cartão de débito ganhe mais força com a lei que possibilita ao lojista dar desconto no pagamento à vista.

Na avaliação da Abecs, o maior uso do cartão de débito está ainda relacionado à inclusão financeira da população, principalmente em regiões interioranas, e à substituição de meios de pagamento, em compras de menor tíquete.

Ou seja: os brasileiros estão substituindo cada vez mais o pagamento em dinheiro pelo cartão.

“O avanço do débito deve continuar à medida que também aumentam a inclusão e a penetração dos meios eletrônicos de pagamento no consumo das famílias, que, no 1º trimestre deste ano, ficou em 28,2%”, de acordo com Ricardo Vieira, diretor executivo da Abecs.

Texto por: Fátima Fernandes, 27 de Julho de 2017.

Escrito por varejoemdia

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