O aumento de 10% a 15% do dólar no último mês, na faixa de R$ 3,20 a R$ 3,30, para R$ 3,70 a R$ 3,80, já provocou uma onda de alta de preços em vários setores da economia.

A inflação brasileira que estava em 3% ao ano, até o mês passado, deve chegar, em dezembro, a 4,5% no acumulado de 12 meses.

Apesar de estar dentro da meta estabelecida pelo governo, a inflação é alta, quando comparada com a de outros países.

A análise é de Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector, que já esperava do BC (Banco Central) a interrupção no processo de redução da taxa básica de juros da economia, a Selic, hoje de 6,5% ao ano.

Veja a seguir os principais trechos da entrevista com Fábio Silveira sobre o impacto da alta do dólar no varejo.

A alta do dólar vai elevar os preços dos produtos?

Vai sim. O encarecimento dos produtos importados em reais foi da ordem de 10% a 15% em três a quatro meses, e isso vai se propagar para os produtos feitos no Brasil.

Evidentemente, a alta de preços não será instantânea. No caso dos importados, vai acontecer com a renovação de estoques, e com impacto nos produtos nacionais.

Um exemplo clássico é o vinho importado.

Com uma taxa de câmbio de R$ 3, uma garrafa importada a US$ 10 custa R$ 30. Se o dólar passa para R$ 4, o mesmo produto custa R$ 40.

Com isso, abre-se espaço para a alta de preços do vinho nacional, que sobe de R$ 30 para R$ 35, como consequência do reajuste do importado.

Mesmo que o produto feito aqui não tenha impacto direto do dólar, abre-se espaço para os reajustes.

Quais produtos podem ficar mais caros?

Todos os chamados produtos comercializáveis, como alimentos, roupas, têm essa propriedade. É uma característica de mercado.

O contrário também ocorre.

Se a taxa de câmbio cai, os preços diminuem também. A inflação ficou relativamente baixa no período de 2013 a 2014 até 2016 a 2017 e um dos motivos principais foi a taxa de câmbio baixa.

Pode-se se dizer que o país já enfrenta uma escalada inflacionária?

Sim, mas não será uma escalada dramática, não haverá explosão. Isso porque a economia está se recompondo de maneira vagarosa, lenta.

É um movimento de alta de preços que estamos conhecendo no momento. E é exatamente por isso que os juros pararam de cair e, na minha opinião, tardiamente.

O BC percebeu que os preços dos produtos agrícolas já estavam subindo por aqui e que poderiam subir mais, assim como no caso dos produtos comercializáveis, como roupas, carros, eletroeletrônicos.

Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector

O que os lojistas devem fazer neste momento? Estocar mais produtos?

Não existe fórmula mágica neste caso. O comerciante vive num mercado ultra competitivo.

A sobrevivência depende da marca, do atendimento, da qualidade dos produtos. São valores intrínsecos à atividade.

Em um cenário de relativo empobrecimento da economia, como esse que vivemos, ficou mais caro comprar produtos.

O comércio precisa então oferecer qualidade, não tem escapatória. Precisa agradar o cliente, e a gente percebe que há espaço para isso, já que o consumidor brasileiro não é muito bem tratado.

A economia esboçava uma recuperação e agora desacelerou, o que esperar para este ano, já considerando a alta da inflação?

O lojista deve se preparar para enfrentar uma queda nas vendas. Se a expectativa era um crescimento de 3,5% para o varejo neste ano, agora é de 2,5%. Vai crescer, mas não será nada espetacular.

Como é possível subir preço em uma economia vagarosa?

A expectativa era que a economia ia crescer 3% neste ano. Agora fala-se em 2,5%, 2,3%, 2,2%.

Se a economia estava correndo a 120 km por hora, agora está a 70 km por hora. Isto é, vai demorar um pouco mais para chegar ao seu destino, mas não vai parar como em 2015 e 2016.

O fato de o BC decidir manter os juros tem a ver com a alta do dólar?

Sem dúvida. Se a taxa de câmbio aumento, a tendência de encarecimento de preços aparece, com tendência de alta da inflação.

Não há problema quando o aumento de preço atinge um ou outro setor. O problema é quando o reajuste é geral, atingindo alimentos, aluguéis. É exatamente isso que o BC temia.

Por quê isso acontece?

A metodologia do cálculo da inflação precisa ser discutida. Não tem cabimento reajustar o aluguel com base no preço do tomate, por exemplo.

Nos Estados Unidos, tem o cálculo da inflação com núcleo, sem alimentos e combustíveis, e o câmbio é ajustado com dois parâmetros.

Por que a taxa Selic cai e os juros não caem para os consumidores?

Os juros caem pouco porque  o país tem sistema financeiro com pouca concorrência. Numa economia que cresce pouco, as instituições tiram vantagem da condição de oligopólio.

Cabe ao BC acentuar os mecanismos de competição no mercado bancário de modo que o consumidor, os investidores paguem menos juros.

As grandes redes que bancam o financiamento do cliente também não têm a mesma rentabilidade do passado e, por isso, também não reduzem as taxas.

Escrito por Fátima Fernandes

Jornalista especializada em economia, negócios e varejo

3 comentários

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