Começou neste mês uma nova onda de reajustes de preços das indústrias de alimentos e artigos de higiene pessoal e limpeza.
No último mês, as tabelas de preços de fabricantes de produtos vendidos em supermercados, principalmente, aumentaram entre 6% e 12% para o setor atacadista.
Os preços das indústrias estavam estabilizados há mais de um ano, como reflexo da mais longa e intensa crise que o país já enfrentou.
A alta do dólar e os efeitos da greve dos caminhoneiros desencadearam os reajustes neste mês, de acordo com Emerson Luiz Destro, presidente da ABAD, associação dos atacadistas.
As empresas de atacado, porém, diz ele, não deverão repassar imediatamente, e integralmente, as altas para os pequenos comerciantes, supermercados, bares, restaurantes.
Como trabalham com elevados estoques, até para três meses de vendas, as empresas deverão repassar parte dos reajustes.
“Se o atacadista tem mil caixas de um determinado produto e compra mais mil caixas, em vez de 7%, ele repassa 3,5% para os preços. Ninguém quer perder mercado”, afirma.
Os aumentos de preços das indústrias deverão ser mesmo sentidos pelo mercado, diz Destro, a partir de outubro, quando estarão esgotados os estoques com preços antigos.
“Até lá, alguns atacadistas vão sacrificar margens, uns mais, outros menos.”
ALTA DE CUSTOS
As indústrias alegam, diz Destro, que os custos fixos subiram, casos de energia elétrica e salários, e que ficou impossível manter as mesmas tabelas de preços.
A leitura que o presidente da Abad faz deste momento é a seguinte:
“Se a indústria não tem expectativa de incremento de faturamento para compensar o aumento de despesa, tem de subir o preço para manter as margens e o negócio saudável.”
Este não deve ser um ano fácil para o setor. A combinação de preços em alta e consumo em baixa não é nada animadora para os empresários.
“Não vemos melhora no consumo, até porque a massa de desempregados não mudou de patamar.”
O setor atacadista brasileiro fatura perto de R$ 260 bilhões e emprega cerca de 340 mil pessoas.
De janeiro a maio deste ano, o faturamento nominal do setor caiu 4,7%. Se considerada a inflação no período, a queda de receita foi ainda maior.
No início deste ano, a expectativa do setor era fechar 2018 com crescimento real de 0,5% a 1%.
Agora, se o faturamento nominal das empresas for igual ao de 2017, já será um bom resultado, de acordo com Destro.
A crise dos últimos anos prejudicou até empresas tradicionais do setor. Não foram poucas as que tiveram de encolher ou simplesmente fechar as portas.
Em 2016, o setor chegou a empregar pouco mais de 360 mil pessoas. Hoje, emprega pelo menos 13 mil pessoas menos, e não há perspectivas de contratações para 2018.
“Agora é questão de resiliência. Quem fez a tarefa de casa, reduzindo operações e custos, para se adaptar ao novo mercado, está se mantendo, e pode até sair mais fortalecido”, diz.
O mês de junho, de acordo com Destro, até que não foi tão ruim para algumas empresas do setor.
“Muitas redes que compravam diretamente das indústrias acabaram procurando os atacados. As indústrias tiveram de religar máquinas e houve desabastecimento no mercado.”
Julho já começou diferente para os atacadistas, com reajustes de preços e, portanto, com negociações mais intensas com as indústrias e com os clientes.
As perspectivas para a inflação neste semestre, portanto, não são otimistas.
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Foto: Divulgação/Abad
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