Com a expansão do e-commerce, um dos assuntos que vira e mexe é discutido entre lojistas é se a loja física e o pequeno comércio vão acabar.
Para Nelson Barrizzelli, um dos mais experientes consultores de varejo do país, a resposta é ‘não’ para os dois casos.
Alguns setores do varejo, certamente, diz ele, vão sofrer mais do que outros com a expansão do e-commerce. “Agora, a loja física vai sempre existir.”
“Em um país continental como o Brasil, o pequeno varejo continuará existindo até para atender as regiões onde é custoso para uma indústria entregar os seus produtos.”
Leia a seguir o que pensa Barrizzelli sobre o futuro do varejo no Brasil.
Os empresários apostavam, antes das eleições, que Jair Bolsonaro seria o melhor nome para comandar o país. Esses empresários estão frustrados?
Existem preocupações justificadas entre os empresários que geram riquezas, oferecem empregos, fazem investimentos em capacidade produtiva, etc.
As preocupações decorrem das escolhas feitas para os ministérios.
Ao lado de alguns ministros com grande competência, existem outros escolhidos por suas crenças, e não pelo conhecimento que possuem nas áreas que vão comandar.
Outra preocupação se deve ao fato de o presidente continuar insistindo nas questões de costumes (ainda que atendendo promessas de campanha), sem se esmerar nos aspectos econômicos que podem tirar o Brasil da crise em menos tempo.
Os próximos meses mostrarão a que veio o presidente Bolsonaro.
Se ele pretende deixar como legado para a sociedade brasileira as idéias do filósofo Olavo de Carvalho ou a marca brilhante de ter tirado o Brasil da pior crise econômica de sua história.
Parece que a reforma da Previdência apresentada por Paulo Guedes foi bem aceita pelos empresários, mas, agora, há dúvidas se ela será aprovada. Se aprovada, como fica o varejo? E se não for aprovada?
A primeira questão que precisa ser respondida é: “Por que a reforma da Previdência é mandatória?”.
Existem outras, como a Política, a Tributária, a Desburocratizante, etc. Mas parece até que se nada acontecer com elas, o país se acostumou a viver na confusão que cada uma provoca.
O brasileiro já se abitou a pagar dezenas de impostos e, quando não consegue pagá-los, sonega.
O inferno burocrático faz parte do nosso dia-a-dia e, quando precisamos enfrentá-lo, nos preparamos psicologicamente e “vamos em frente”.
Se nada acontecer, logo, logo, não haverá mais recursos e os governos terão de escolher onde gastar o dinheiro disponível.
Por isso, a reforma da Previdência é absoluta necessidade.
Se a reforma sair, do ponto de vista macroeconômico, o Brasil começará sua caminhada mais rápida de volta ao ponto de onde saiu em 2014.
O PIB vai crescer de acordo com o potencial do país, as indústrias passarão a reduzir a alta capacidade ociosa existente, o emprego começará a voltar e as pessoas irão às compras movimentando dessa forma o varejo.
Se for desfigurada a ponto de repetir os “remendos” dos últimos tempos, a situação econômica do país vai continuar como tem estado em 2017, 2018 e, provavelmente, estará este ano: com um crescimento pífio que se arrastará por quatro anos do governo Bolsonaro.
O varejo foi atingido em cheio com a crise política e econômica dos últimos anos. Qual é a situação hoje do varejo?
O varejo é um conjunto econômico multifacetado. Ele é favorecido por crescimento econômico ou atingido negativamente pelas crises de forma heterogênea.
Os setores de alimentos e de saúde tiveram menos problemas entre 2014 e 2018. Já os produtos da categoria de bens duráveis foram muito atingidos.
O Brasil saiu da recessão em 2017, mas continuou com crescimento pífio.
O nível de emprego não se movimentou. Ora diminui um pouco e, em seguida, volta a crescer.
Tudo deve se normalizar quando o mercado voltar a crescer, consistentemente, cerca de 3,5% ou 4% ao ano, durante alguns anos.
Qual o diagnóstico que o sr. faz das lojas hoje? Quais os pontos mais fracos (e os fortes) e que precisam ser superados pelos comerciantes?
Os grandes varejistas nacionais ou multinacionais conseguem superar a crise, mesmo numa situação tão grave como a que estamos vivendo.
Estas são empresas organizadas, com gestão profissionalizada, operando com a aplicação de técnicas modernas e sistemas de última geração e marketing voltado para o cliente final.
O mesmo não ocorre com as empresas de portes médio e pequeno.
Já existem empresas nesse nível que possuem governança corporativa, estão atualizando seus sistemas de gestão, usando tecnologia de primeira linha, atentas aos movimentos das mídias sociais e procurando aplicar modernos métodos de atendimento.
O mesmo não ocorre com as varejistas de pequeno porte. Se fala no Brasil há mais de 20 anos que o pequeno varejo vai acabar, mas eu não concordo.
Em um país continental como o nosso, o pequeno varejo continuará existindo para atender áreas do Brasil, com o auxílio dos intermediários distribuidores, onde é custoso para um fabricante entregar os seus produtos.
Esses pequenos quando desaparecem dão lugar a outros pequenos que os substituem até que o ciclo se repita.
Logicamente, alguns varejistas pequenos entenderam que precisam se modernizar e passaram a melhorar sua gestão por meio de sistemas de controle mais modernos.
Alguns deles estão crescendo e tendem a se tornar médios varejistas em alguns anos.
Portanto, é preciso cuidado evitando-se uma análise homogênea do varejo, como se todos os setores e todas as empresas operassem da mesma forma e tivessem os mesmos resultados.
Com a expansão da venda pela internet, qual será o futuro da loja física? Tudo indica que a loja física nunca vai acabar.
A loja física vai continuar existindo como sempre. Alguns setores do varejo serão mais atingidos, outros menos.
Há mais ou menos 15 anos se convencionou que a tecnologia no futuro transformaria as lojas existentes apenas no mundo físico se transformariam em lojas que operariam em determinados locais fixos e em canais eletrônicos.
Atualmente um número crescente de lojas está operando através de vários canais.
Existem lojas que pegam o pedido pela internet e entregam a encomenda na loja.
Enfim, o desenvolvimento motivado pelas novas tecnologias está influindo menos na maneira pela qual o cliente compra e muito mais na forma pela qual os varejistas passam a conhecer seus clientes, seus hábitos de consumo, sua maneira de fazer escolhas.
Como se observa, a fusão do mundo físico com o mundo virtual está ocorrendo em vários segmentos e tende a crescer.
Qual o perfil de loja que vai sobreviver em vários setores, como o de vestuário, alimentos…
As lojas que devem sobreviver são aquelas que estudam os seus clientes, sabem o que eles querem, oferecem os produtos desejados e procuram operar com o mínimo de falta desses produtos no ponto de venda.
Alguns setores, como o de semiduráveis (roupas e calçados, principalmente), dependem de contínua troca no sortimento. Não importa se a loja é física ou virtual.
As pessoas compram novidades. É interessante observar como alguns varejistas tiveram sucesso através da personalização do design de seus produtos.
Esses segmentos dependem de lançamentos contínuos.
Quais as perspectivas para o varejo neste ano e no ano que vem?
Este ano o varejo terá uma performance muito parecida com a do ano passado.
Isso só vai mudar quando o desemprego diminuir.
As pessoas deixam de comprar ou compram produtos mais baratos por falta de renda.
O Brasil tem tecnologia de crises. Esta é a 8a desde 1960, só que muito mais profunda do que as anteriores.
O brasileiro é um consumista por natureza.
Quem tem renda mais estável compra para atualizar os produtos que usa, passa a consumir produtos de maior preço, adere com mais facilidade às modas correntes, mas está sempre comprando alguma coisa.
Portanto, o varejo brasileiro terá melhores perspectivas quando a economia voltar a crescer.