Embora algumas solitárias vozes alertassem sobre o risco de um novo vírus surgir de forma avassaladora, a atual geração de decisores políticos e empresariais, nem nos seus piores pesadelos, tinham sequer imaginado o cenário que se desenhou nos últimos meses.

Como toda crise, ainda mais uma de proporções globais, os impactos serão sentidos de forma diferente em países, empresas e famílias distintas. Particularmente no Brasil, uma nação ainda em desenvolvimento, com grandes desigualdades socioeconômicas, essas diferenças serão ainda maiores e evidentes.

O varejo, por atender diretamente o consumidor final, reflete em grande medida essas desigualdades. Nos países desenvolvidos, particularmente nos EUA e Europa, o varejo tende a ser mais maduro e homogêneo, bem diferente daqui, onde é extremamente heterogêneo.

No Brasil encontramos redes de lojas que podem ser consideradas referências mundiais em alguns aspectos, mas por outro lado, temos um número colossal de pequenas empresas que mal sabem como expor os produtos nas vitrines, calcular o preço de venda ou controlar minimamente seus estoques.

Essas diferenças se acentuam ainda mais quando comparamos segmentos diferentes ou ainda quando avançamos dos grandes centros para o interior do Brasil. A competição obriga as empresas a se tornarem mais eficientes, se modernizarem primeiro, capacitando-as para enfrentar qualquer desafio.

Mesmo empresas do mesmo segmento, e que não tiveram suas operações paralisadas, como supermercados, farmácias e petshops, estão sofrendo de forma diferente com o aumento dos custos, redução do quadro de funcionários e negociações mais duras com fornecedores.

Empresas mais organizadas, informatizadas e que já atuavam em múltiplos canais estão conseguindo encarar melhor os problemas provocados pela pandemia do que aquelas que ainda dependiam puramente do cliente na loja para fazer negócios.

Apesar de tantas dúvidas, sabemos que em algum momento os clientes voltarão a frequentar lojas e shoppings centers mas que o comportamento de consumo já foi profundamente transformado.

Então meus amigos, não é mais hora de buscar culpados ou de ficar esperando uma ajuda milagrosa do governo, porque ela não virá. Temos que nos recompor da tristeza, da derrota para o coronavírus e começar a planejar os próximos passos.

A retomada das operações será mais rápida e melhor à medida que empresários e gestores estabelecerem prioridades, repensando todos os processos e modelos mentais que eram usados para as decisões antes da pandemia.

Eu sempre fui um defensor do mantra do varejo: gerar fluxo de clientes, elevar a conversão, conquistar a fidelidade, com o máximo de margem possível. Mas agora, tudo ficou mais crítico e emergencial. Nos foi tirado a variável tempo, que permitiria fazer esse ciclo virtuoso girar e nos levar ao sucesso.

Nessa fase de transição entre o passado e futuro, em que sobreviver está acima de tudo, as novas prioridades devem ser:

  • Avaliar em detalhes a situação financeira e tomar rapidamente as decisões necessárias para garantir o caixa da empresa para os próximos 6 meses ou mais
  • Atacar custos e despesas, rever todos os contratos, concentrar-se no essencial
  • Investir nos canais digitais e na eficiência das operações de retaguarda e logística
  • Reduzir perdas de toda a natureza, principalmente na frente de caixa
  • Transformar os investimentos necessários de CAPEX para OPEX
  • Rever todo quadro de pessoal: avaliar as posições chaves, realocar funcionários quando possível, suspender contratos de trabalho se necessário e realizar as demissões quando forem inevitáveis

Nenhuma empresa se torna mais eficiente da noite para o dia, isso exige um tremendo esforço humano e principalmente a adoção de tecnologias que precisam ser implantadas e dominadas pelos funcionários e gestores.

Se não agora, quando isso vai acontecer? A nova versão do varejo está sendo construída aqui e agora, com muitas incertezas e pouca margem de erro. A dificuldades serão enormes, mas sairemos mais fortes e preparados para o futuro.

Gustavo Carrer é head de desenvolvimento de negócios na Gunnebo e editor do portal varejoemdia.com

Escrito por gustavocarrereditor

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