A alta do dólar, agora próximo de R$ 3,90, funcionou como um banho de água fria nas projeções mais otimistas para o varejo neste ano.
Dólar mais caro significa encarecimento de produtos e insumos importados e cria um ambiente de desconfiança na economia, afetando em cheio os negócios.
E a expectativa de queda da taxa básica de juros da economia, a Selic, hoje de 6,5% ao ano, um estímulo ao consumo, já não é mais tão firme.
A análise é de Fabio Silveira, economista e sócio-diretor da MacroSector Consultores.
Por que o mercado de câmbio se mostrou mais nervoso nos últimos dias?
“O mercado não está vendo no governo de Jair Bolsonaro a capacidade necessária para discutir e, em seguida, aprovar a reforma da Previdência no Congresso”, diz Silveira.
“Se esse estresse entre o executivo e o legislativo continuar, o ritmo de atividade do país vai diminuir afetando em cheio o varejo.”
A previsão dos economistas neste trimestre é de um crescimento do varejo entre 2,5% e 3% neste ano.
Se as discussões em torno da reforma da Previdência continuarem tensas, esses números serão menores ou até negativos, de acordo com Silveira.
Austeridade, portanto, é a palavra de ordem para os comerciantes neste momento, justamente quando a coleção outono-inverno chega às lojas.
Austeridade nas compras, nos gastos, nos investimentos e nas contratações. “O ambiente está cavernoso. São muitos eventos negativos”, diz Silveira.
Alguns indicadores refletem esse clima de expectativa.
O movimento de vendas do varejo da capital paulista caiu em média 7,9% na primeira quinzena de março em relação ao mesmo período de 2018.
O número é do Balanço de Vendas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que registrou retrações tanto nas comercializações a prazo (-9,4%) quanto à vista (-6,4%).
Outro dado negativo. A confiança do consumidor da classe DE recuou de 93 pontos para 83 pontos em fevereiro em relação a janeiro, de acordo com o Índice Nacional de Confiança (INC) da ACSP.
O resultado contribuiu para puxar para baixo a confiança do brasileiro como um todo, que marcou 98 pontos em fevereiro (contra 103 em janeiro).
O INC varia entre zero e 200 pontos. O intervalo de zero a 100 é considerado o campo do pessimismo e, o de 100 a 200, o do otimismo.